domingo, 17 de abril de 2011

PARTE I

PRIMEIRO DIA:
Depois de muito adiar a viagem devido aos mais variados problemas, encontramos uma janela entre o fim de janeiro e fevereiro. Sem atrasar mais nenhum dia, saímos de Curitiba com destino a Tierra del Fuego em nosso motorhome mercedes-benz Sprinter 412D.
Já no primeiro dia, viajamos até Pelotas/ RS, percorrendo ao todo a distância de 960 km pela BR-101. Final do dia, já um tanto cansado devido ao sono que começava a se apresentar, encontrei um posto de combustível na margem da rodovia. Fiz a troca do óleo, filtro de combustível e gasolina e recebi, de brinde, luz elétrica e água para passar a noite.
SALDO FINAL: BUENA SUERTE – 01
MALA SUERTE – 00
SEGUNDO DIA:
Por não ter conseguido acordar cedo, acabei saindo de Pelotas/RS às 10:00 hrs da manhã acompanhado de alguns poucos pernilongos que entraram não sei por onde durante a madrugada.
Em Rio Grande/RS, procurei uma empresa especializada para estancar um vazamento no sistema de rodoar. Feito o reparo, parte da iluminação do motorhome deixou de funcionar e lá fui eu atrás de um eletricista para comprar fusíveis apropriados já que, por experiência, sabia que este seria o problema.
Segui para o Chuí passando primeiramente pela reserva ecológica do Taim. Poucos carros e pouca civilização depois da cidade do Rio Grande. Trajeto agradável que renderam as primeiras fotos de paisagens.
No Chuí, passamos pela receita federal e, por alguns instantes, pensei em parar para declarar os eletrônicos que possuíamos em nosso motorhome a fim de que, na volta, não fosse surpreendido por algum fiscal que ousasse alegar que meu laptop deveria ser tributado. No entanto, ousei arriscar. A aduana estava cheia e eu queria ganhar tempo. Passei direto e fui até a cidade encher o tanque.
No Chuí, mas na parte do Uruguay,  fui avisado pelo frentista que o combustível no Uruguay é mais caro do que no Brasil. Fiz as contas e percebi que um litro de diesel sairia R$ 2,80. Voltei correndo para o Chuí brasileiro e completei o tanque a R$ 2,00. Enquanto isso, minha esposa foi até caixa automático sacar pesos Uruguayos e voltou para o Motorhome com a incrível quantia de $ 2.000,00 (dois mil pesos), o que me fez adverti-la que, possivelmente, sobraria muito dinheiro, pois ao final daquele dia atravessaríamos para a Argentina.
Na aduana Uruguaya, que fica uns 3 km para frente da cidade de Chuí, preenchi o formulário sozinho e apresentei ao fiscal que, confiando em meus lindo olhos azuis, não quis ver se as crianças que estavam no motorhome correspondiam as crianças apontadas nas cédulas de identidade. Também não conferiu nossa geladeira, pois eu sabia que não poderia entrar no Uruguay com Hortifrutigranjeiros. Acreditando em minha palavra, segui viagem.



Poucos km adiante, paramos para almoçar em uma cidade chamada Angostura. Trata-se de uma cidade litorânea bastante simpática mas sem nenhuma alma viva para os padrões brasileiros. Seguimos até a praia e encontramos um único restaurante. Sem opção, almoçamos ali mesmo e começamos a perceber que no Brasil nos alimentamos muito bem. Antes tivéssemos almoçado em nosso próximo Motorhome.
Detalhe: Ao pagar a conta, nos foi apresentado uma fatura de $ 1800 (mil e oitocentos pesos Uruguayos), o que nos fez perceber que não teríamos dinheiro para pagar o pedágio.
Seguimos viagem com destino a Colônia del Sacramiento. As estradas do Uruguay são muito bem cuidadas e os motoristas Uruguayos são extremamente cordiais, pois abrem o caminho para quem deseja ultrapassar jogando seu veículo para o acostamento. Gostamos tanto de tal procedimento que logo nos vimos cordiais também fazendo a mesma coisa.

Nos pedágios por onde passávamos, pagamos com Reais. Sorte! Pois não teríamos como pagar em Pesos Uruguayos devido a nossa incompetência em fazer contas.
Devido ao pouco tempo que possuíamos, não paramos em Punta de leste e Montevidéo. Assim, às 22:00 hrs, estávamos em Colônia del Sacramiento para a travessia para Buenos Aires.
Encontramos uma vaga para a travessia no ferry às 5:00 da manhã, portanto, mesmo cansado, poderia dormir apenas 4:00 hrs, pois deveríamos nos apresentar para o check-in às 4:00 hrs da manhã.
Paramos o motorhome em um Posto de Combustível e alí dormimos mal e porcamente às 4:00 hrs, acompanhados de alguns pernilongos de Pelotas que nos roubaram 30 minutos de nossa noite, pois não tínhamos veneno e tivemos que abatê-los manualmente.
Durante todo este segundo dia de viagem, percebi que o compressor de ar estava funcionando a cada 20 minutos, o que demonstrava que ainda existia vazamento em algum lugar do sistema de Rodoar, apesar do reparo na cidade de Rio Grande/RS. Bom, era tarde, resolveria isso no outro dia, já na Argentina.

Saldo final: Buena Suerte – 02
Mala Suerte – 00

PARTE II

Estávamos tão cansados devido as poucas horas de sono que não conseguimos contemplar a chegada ao porto de Buenos Aires. A vista daquela cidade através da Bacia do Prata deve ser muito bonita, mas sentamos em cadeiras bastante confortáveis no terceiro andar do ferry e alí cochilamos durante toda a travessia.
Estava um pouco apreensivo com relação a aduana de nuestros amigos argentinos, pois havia escutado que a polícia do norte é bastante corrupta. Certo companheiro me comentou em um camping de Santa Catarina que havia pago, no total, cerca de US$ 300,00 só em propina no caminho de 600 km entre Uruguaiana e Buenos Aires. Diante de tal informação, decidi seguir pelo Uruguay e enfrentar a aduana somente em Buenos Aires.
Ao chegar a aduana, fomos gentilmente encaminhados com nosso motorhome para uma fila de não-argentinos. Uma simpática PORTENHA perguntou de onde éramos e para onde iríamos. Analisou perfunctoriamente a documentação e nos liberou. Não houve nenhum pedido para verificar o interior do veículo. Nenhum pedido para abrir os compartimentos. Não verificaram nada! E eu que havia estudado durante dias todos os acessórios obrigatórios e, além disso, comprado um a um no Brasil para não ser fisgado, me enxerguei agora um tanto desapontado.
Segui para La Plata, cidade pertencente a grande Buenos Aires, pois planejamos conhecer a prima da minha esposa. Ao chegar lá pelas 10:00 hrs da manhã, consegui quebrar mais uma molécula de ATP, tomei meu banho e fui dormir até o dia acabar, não sem antes matar mais dois dignos exemplares dos pterodáctilos de Pelotas-RS que insistiam em viajar conosco.
Passamos o final de semana em companhia destas simpáticas pessoas. Minha esposa e sua prima somente haviam conversado, até tal data, através da internet (MSN, FACEBOOK, GOOGLE TALK, etc). Tagarelaram durante horas assuntos incompreensíveis que somente poderia ser interpretado por algum  profundo conhecedor do portuñol.
Fato curioso: Percebi que não existem placas de condução preferencial nos cruzamentos das ruas da Argentina. Diante disso, eu conduzia meu motorhome parando em cada esquina para não correr o risco de sofrer algum acidente que terminariam com as minhas tão esperadas férias. Questionei isso aos anfitriões e me foi explicado que nos cruzamentos argentinos, o veículo menor respeita o maior, portanto, eu poderia conduzir sem riscos meu motorhome pelos cruzamentos sem precisar parar. Eu não concordei com tal tradição e continuei tomando cuidado. Rs
Aproveitei o domingo para comprar veneno. Aqueles pterodáctilos gaúchos não me incomodariam mais. Levei o veículo também até um borracheiro (gomeiro) para verificar os pneus (cobertas). Conversa vai e conversa vem me foi dito que havia um buraco (tarugon) em um pneu e que não havia conserto. Comprei um pneu usado que aparentava estar em boas condições e deixei o meu original estragado para eles.
Segunda pela manhã nos despedimos e seguimos viagem rumo a ruta 3. Voltamos até Buenos Aires e começamos o trajeto por tal rodovia. Não sabia bem até aonde eu conseguiria conduzir, então segui a brisa dos ventos e deixei o cansaço ditar as regras. Paisagem bonita a partir de Buenos Aires. Até Bahia Blanca (650 km) o trafego é intenso devido ao porto, mas sem nenhum desnível na estrada. Pelo que percebi, foram 650 km de planalto verdejante.
Durante este trajeto cheguei a conclusão que possivelmente eu tenha me deixado enganar pelo borracheiro porteño que alegou não existir conserto para o meu pneu abandonado. Ora bolas! Tudo, absolutamente tudo, com exceção da morte e dos impostos, tem conserto nesta vida. Eu deveria ter trazido meu pneu e procurado a opinião de outro borracheiro. Bahh! Aquele pneu me custou R$ 500,00 (quinhentos reias). Espero que o usado  não me traga problemas.
Outra curiosidade: A quantidade de fazendas de girassóis nos fez entender que esta possivelmente seja uma das principais atividades econômicas daquela região. São famosos os azeites de girassol no Brasil que custam mais caro do que o de soja. Pois é! São os girassóis desta parte da Argentina.
O Bebê assistiu desenhos e filmes durante todo o dia. A adolescente não acordou de seu coma profundo. Ao chegar a Bahia Blanca eu já estava um tanto casado. Encontramos um posto de combustível que nos forneceu água e luz. Alí tomamos nossos banhos e fizemos uma lasanha. Dormimos cedo para tentar prosseguir a viagem não muito tarde do dia seguinte.
BUENA SUERTE: 03
MALA SUERTE: 00

PARTE III

Ao acordar, recolhi cabo de luz e mangueira d’água e nos pusemos a seguir a Ruta 3 a partir de Bahia Blanca em direção a Viedna, cidade já pertencente a Patagônia. Após 200 km, alcançamos a primeira barreira fitossanitária existente no trajeto do dia. A partir de tal barreira não poderíamos levar qualquer produto de origem animal e vegetal. Tratava-se da mais rigorosa inspeção de que fui alvo em toda a viagem. Nem mesmo a receita federal do Brasil é tão obstinada pela busca ao irregular.



Tal controle tem por objetivo preservar a fauna e flora da região de transgênicos e pragas. Vasculharam absolutamente tudo. Minha esposa, maliciosamente, pegou uma das peras que havíamos comprado em Buenos Aires e deixou nas mãos do bebê. Foi a coisa mais engraçada da viagem. O teatro que o bebê fez quando o fiscal pediu a fruta foi realmente cômica, mas não funcionou. A fruta teve que ser consumida na hora. Seguimos viagem desabastecidos.









A paisagem mudou drasticamente em apenas 20 km. Estávamos, finalmente, chegando a Patagônia. Os campos verdes sem fim desapareceram, dando lugar a uma paisagem desértica, com poucos arbustos e absolutamente nenhuma árvore. 


















O tráfego das estradas depois de Bahia Blanca também diminuiu bastante. Estávamos próximos de Viedma, cidade a 270 km de Bahia Blanca.













Viedma localiza-se às margens do Rio Negro e possui temperatura média anual de 14° Celsius. As casas construídas à beira do rio nos demonstraram que, mesmo diante de tal temperatura, ela vem sendo bastante explorada como balneário. 

A arquitetura moderna das casas ao lado da ponte realmente nos impressionou. Paramos em um posto YPF para encher o tanque e acessar os e-mails. Após um leve lanche, percebi que o pneu que eu havia comprado em Buenos Aires tinha um raio um pouco maior do que o outro. Por instantes, tive a nítida impressão de que isso me traria problemas, portanto, decidi que pararia no primeiro borracheiro existente na estrada.









A saída da cidade é um pouco confusa e acabei pegando uma rota errada. Sorte que meu GPS acusou tal erro. Já na rota correta, a Patagônia começou a demonstrar o que enfrentaríamos: o nada de civilização. Não havia uma só alma viva e muito menos um borracheiro na beira da estrada. 
Tão logo eu havia me dado conta de tal situação e aquele maldito pneu explodiu. Ahh que falta de sorte!
Diminui a velocidade e decidi seguir até a próxima cidade sem trocar o pneu, já que meu veículo possui duplo rodado e, devagar, tal problema não me traria lá grandes danos. Procuramos no mapa a próxima cidade e, para nossa decepção, Santo Antônio d’ Oeste estava a uma distância de 150 km. O barulho do pneu destruído estava me preocupando. Alguns pensamentos não paravam de martelar minha cabeça enquanto eu observava atentamente o horizonte. 
Será que eu deveria parar e tentar trocar o pneu, mesmo com todos aqueles canos de rodoar e peças de separação das rodas inerentes ao veículo duplo-rodado? Se eu fizesse isso, será que eu conseguiria montar adequadamente depois todas as peças da roda? E se eu não conseguisse? Como conseguir ajuda no meio do nada? Aff!!

O tempo passava e nada de cidade alguma. Parei uma dúzia de vezes para avaliar o estrago, já que o rodoar não acusava mais nenhuma pressão nos pneus. Procurei não preocupar minha esposa, pois isso não ajudaria em nada.

Foram 3 horas para fazer 180 km. Visualizar Santo Antônio d’Oeste foi realmente muito tranquilizador. Pensei: Civilização finalmente! Eu já sabia, desde o início da viagem, que a Patagônia me arremessaria, mais cedo ou mais tarde, a uma sensação de abandono, de isolamento, de impotência e, via de consequência, de dependência. Estava curioso em saber como eu me comportaria.




Em Santo Antônio D’Oeste encontrei um posto de combustível com serviço de borracharia. O borracheiro trocou o pneu pelo estepe, mas não possuía um pneu novo para me vender. Não gostaria de arriscar a viajar sem estepe e decidi dormir na cidade para poder comprar um pneu novo no dia seguinte, já que o horário comercial já havia terminado.



Procuramos um camping e descobrimos que Santo Antonio D’Oeste é, na verdade, um famoso balneário da região. Seguimos para a praia chamada de “Las Grutas” e encontramos um camping que estava realmente quase lotado. Ali enchi a caixa d’água do motorhome e procurei uma tomada de luz. Bastou ligar o forno elétrico e a energia do camping inteiro despencou. Tentei isso por duas vezes e cheguei a conclusão que a rede elétrica do estabelecimento não suportaria os equipamentos do meu veículo. Fui obrigado a desistir. AFFF novamente!

Nos tornamos a sensação do camping. Todos comentavam sobre nossa origem e tiravam fotos do veículo, mas não tiveram coragem de puxar conversa. Lembrei que nós brasileiros somos iguais com os Argentinos que visitam nossas praias.

Conversei com um grupo ao lado e eles nos informaram que eram de Buenos Aires e estavam passando as férias em Las Grutas. Ora bolas! 1.200 km de carro para passar as férias no balneário de Las Grutas. Por que não foram para Florianópolis? Acho que esta praia deve mesmo ser muito bonita. Descobrirei isso no dia seguinte.

Saldo final:
Buena-suerte – 03
Mala-suerte – 01

PARTE IV


Pela manhã, caminhamos até a praia para conhecer o motivo pelo qual alguns portenhos viajam 1200 km para passar as suas férias. Achávamos sinceramente que não iríamos conseguir, pois poucas vezes na vida presenciei uma ventania tão forte como a daquela manhã. Reclamei um pouco, mas logo me atualizaram que o clima estava bom e que seria assim mesmo.
Quando chegamos a praia por um caminho de aproximadamente 500 metros, não conseguimos tirar mais do que uma foto, pois realmente estava impossível permanecer na areia com aquele vento. Pelo jeito eu iria continuar sem entender o que havia de tão bonito naquele lugar.
Saímos do camping e fomos comprar o bendito pneu-estepe para poder seguir viagem. Paguei o mesmo preço que costumo pagar no Brasil. Procuramos também um eletricista para consertar um pequeno defeito elétrico na tomada do inversor. Tal eletricista fez seus arranjos e negou-se veementemente a receber qualquer quantia pelo seu trabalho. Ele parecia bastante empolgado com a nossa viagem e alegou que bastava falarmos bem do seu povo que o débito estaria mais do que pago. Quanta simpatia!
Passamos em um supermercado e abastecemos a geladeira com carnes e frutas. Seguimos viagem.
Curiosidade: Na Patagônia, o horário comercial vai até as 21:00 horas. Por isso, todos os estabelecimentos fecham as 12:00 hrs e voltam a funcionar somente as 16:00 hrs. Nestas quatro horas de almoço, as cidades parecem fantasmas. Tudo fechado.
Outra coisa. O combustível na Argentina que já é, via de regra, mais barato do que no Brasil, na Patagônia fica ainda mais em conta. Uma diferença de quase 10% quando comparado com os postos de Buenos Aires.
Segui pela Ruta 3 até Puerto Madryd. Foram 400 km no que restava do nosso dia depois de tantas atividades em Santo Antônio d’Oeste. A paisagem não mudava. Poucas inclinações na pista, poucas curvas e quase nenhum veículo. Assim parece fácil dirigir. Ocorre que as rajadas de vento podem te tirar da pista a qualquer momento, se estiver distraído.
A partir de Santo Antônio comecei a receber acenos de caminhões que vinham no sentido contrário. Achei que algo estava errado com o Motorhome e parei uma dezena de vezes para verificar o veículo, mas não encontrava nada. Passei a entender que possivelmente estavam me avisando de eventual fiscalização da polícia adiante, mas também não existia nada. Levou mais de 200 km para eu entender que estavam apenas me cumprimentando, como que entusiasmados por ver um motorhome na estrada. Affff!!!
Chegamos a Puerto Madryd. A cidade foi, sem sombra de dúvida, a mais bonita que já havíamos conhecido até então. Encontramos um posto de informações turísticas e nos foi dito que deveríamos seguir até Puerto Piramides (cidade a 70 km de distância) para poder fazer o passeio pela península Valdez no dia seguinte, ou pagar pelos serviços de transporte a partir de Puerto Madryd mesmo. Ocorre que o preço nos assustou, pois o passeio é feito, basicamente, por turistas Europeus com seus Euros mega valorizados. Mesmo cançado, decidi dirigir até Puerto Piramides.
Puerto Piramides é uma cidade — se é que se pode denominá-la assim — de menos de 1000 habitantes. Trata-se da única cidade existente dentro da área natural protegida denominada Península Valdez. Para aqueles que não sabem, poucos lugares no mundo oferecem a possibilidade de observar ao natural a quantidade e diversidade de animais como neste lugar. Tal fato foi inclusivo lembrado pelo pesquisador Charles Darwin no ano de 1847.
A entrada à Península Valdez é cobrada. São 70 pesos por pessoa (algo em torno de 25 a 30 reais). A estrada está asfaltada até Puerto Piramides. Pequena e requintada, cheia de turistas estrangeiros caminhando pelas ruas e uma decoração para lá de atraente, não foi difícil nos apaixonarmos pelo que vimos. Fomos direto para o camping municipal e encontramos um simpático argentino que, após saber de onde éramos, contou que conhecia todos os estados do Brasil e que, recentemente, com o Real valorizado, não estava assim tão difícil ver brasileiros passeando pela Patagônia.
Detalhe: a água potável de Puerto Piramides é toda trazida de Puerto Madryd (70km), portanto, bastante cara. Enchi minhas duas caixas d’água no camping, mas tive que pagar 25 pesos por pessoa. Instalei o Motorhome em um lugar apropriado e fizemos uma lasanha. Após a refeição, banho e cama. O dia seguinte seria de intenso turismo pelos 220 km de estradas de rípio da Península Valdez.
Buena suerte: 04
Mala suerte: 01

PARTE V

Saímos bem cedo, pois queríamos ver as baleias na maré alta. Logo que saímos de Puerto Piramides caímos em uma estrada de rípio. Affff!! Definitivamente motorhome e rípio não combinam. A casa tremia inteira. Tinhamos que fazer cerca de 220 km naquelas condições. Logo de início nos deparamos com uma quantidade impressionante de Guanacos. Reduzi a velocidade para não atropelar algum animal destes.
Nossa primeira parada foi a Punta Norte da Península Valdez, cerca de 70 km de Puerto Piramides. Incrível! Jamais havia visto Leões Marinhos e haviam tantos que eu mal conseguia escolher qual admirar. Ali passamos cerca de uma hora apenas contemplando, tirando algumas fotos e filmando os bichinhos.
Depois seguimos para a Punta Delgada. Foram mais 50 km com uma vista alucinante, pois seguimos margeando a Caleta Valdez. Não sei explicar a beleza daquele lugar, mas, até então, com certeza havia sido o local mais bonito que eu já havia conhecido em toda minha vida. Realmente impressionante! Fui obrigado a parar diversas vezes na estrada para admirar tal paisagem. Infelizmente, nenhuma foto tirada foi capaz de capturar a beleza daquele lugar, motivo pelo qual desisti de publicá-las. Caleta Valdez, não deixem de conhecer.
Chegamos a Punta Canto e tiramos mais algumas fotos. Punta Canto é o local mais apropriado para observar as baleias existentes na região. Uma quantidade infinita de pinguins, leões e elefantes marinhos parecem não discutir por seu local ao sol. Somado a isso, as baleias orcas acrescentam um brilho mágico a natureza.
Acabamos não indo até Punta Delgada, distante mais 50 km de Punta Canto, pois eu estava preocupado com o combustível que estava acabando. Resolvemos então voltar para Puerto Piramides e abastecer. Seguimos então para Puerto Madryn para passar a noite.
Em Puerto Madryn encontramos um camping apropriado com excelente estrutura. Infelizmente eu já estava tão cansado que não consegui encontrar forças para passear pela praia e admirar a beleza do local. Tomei meu banho, jantei e cai na minha cama, não sem antes trocar toda a roupa de cama, pois a poeira da península Valdez entrou sei lá por onde durante o trajeto.
Encontrei alguns Motorhomes no camping. Um me chamou a atenção, pois possuía placa do estado do Colorado (Estados Unidos). Que interessante! E eu que achava a minha viagem a senhora das aventuras. Afff!
No dia seguinte, fui até a recepção buscar as roupas de cama que eu havia mandado para a lavanderia. O serviço atrasou e fiquei esperando. Ali conheci um grupo de aventureiros da parte francesa do Canadá que estavam voltando da Tierra del Fuego. Conversa vai, conversa vem, me contaram que eu deveria conhecer o famoso parque nacional Torres del Paine. Merci beaucoup mon amis! Coloquei tal rota no rol dos lugares para conhecer.
Devido ao atraso na entrega das roupas, seguimos viagem somente após o meio-dia. Eu já estava bem atrasado, pois, pelas minhas contas, já deveríamos estar em Comodoro Rivadavia, distante cerca de 450 KM de Puerto Madryn.
De volta a Ruta 3, passamos por Trelew e Rawson. Depois destas cidades, pegamos a primeira tempestade de areia da viagem. É um espetáculo impressionante. Os ventos assustavam e me mantive alerta para não me ver jogado fora da pista por alguma rajada.
Lá pelas tantas, comecei a ficar preocupado, pois a tempestade de areia realmente prejudicou a manutenção da velocidade de 80 km e, por momentos, me enxerguei conduzindo a 50 km/hora. O esforço do veículo era tamanho que o combustível literalmente desapareceu. Pelas minhas contas estava fazendo 4 km/litro, sendo que no Brasil chegava a fazer 8 km/litro.
Minha esposa queria conhecer Punta Tombo, considerada a maior e mais acessível colônia de pinguins de Magalhães do mundo. No entanto, eu estava sem gasolina e sair da Ruta 3 para seguir até Punta Tombo terminaria em estresse. Decidi seguir pela Ruta 3 em busca de combustível.
Quando acendeu a luz da reserva de combustível, eu realmente comecei a me desesperar. Entre o nada e o lugar algum, sem combustível e ainda no centro de uma tempestade de areia. Afff!
Felizmente encontrei um posto meio abandonado. Com muita dificuldade consegui descer do veículo. O frio estava insuportável. O frentista completou o tanque e seguimos viagem. Aquela ventania não poderia ser normal. O mundo iria acabar!
Mais alguns Quilômetros e percebi que, com aquele vento, não iríamos chegar em Comodoro Rivadavia. Passamos por uma placa que apontava a entrada de uma cidade chamada de Camarones e o seu festival do salmão exatamente naquele final de semana. Não pensamos duas vezes! Pegamos o acesso para tal cidade e, depois de 100 km, encontramos uma simpática cidade com um centro de informações turísticas.
Na beira da praia encontramos uma dezena de motorhomes. O vento estava insuportável. Encontramos pontos de energia e água nos postes da praia e decidimos ficar ali. Fomos até um restaurante para jantar, voltamos para tomar banho e dormir.
A madruga foi tensa. As rajadas de vento balançavam o motorhome com se fosse uma folha de papel. Minha esposa teve pesadelos a madrugada inteira. Eu dormi com a tranquilidade de uma criança.

Buena Suerte: 05
Mala-suerte: 01

PARTE VI

ACORDAMOS CEDO E DECIDIMOS CONHECER A COLÔNIA DE PINGUINS DE CAMARONES QUE, SEGUNDO INFORMADO, POSSUIA CERCA DE 17 MIL PARES APROXIMADAMENTE 40 KM DA CIDADE. A ESTRADA ESTAVA EM BOAS CONDIÇÕES, APESAR DE SER DE RÍPIO, O QUE NOS DEIXOU UM TANTO AFLITOS DEVIDO A EXPERIÊNCIA NO DIA ANTERIOR DURANTE O TRAJETO NA PENÍNSULA VALDEZ.
AO CHEGAR, FICAMOS ESPANTADOS. CAMINHAMOS LITERALMENTE ENTRE OS PINGUINS. O FRIO ESTAVA INSUPORTÁVEL, ENTÃO, NÃO FICAMOS MUITO TEMPO.
ANTES DO MEIO DIA VOLTAMOS À CIDADE E SEGUIMOS PELA RUTA 3  ATÉ COMODORO RIVADAVIA. ENTRAMOS NA CIDADE COM O VEÍCULO, POIS PRECISÁVAMOS SACAR DINHEIRO, JÁ QUE OS POSTOS DE GASOLINA LONGE DOS CENTROS RARAMENTE ACEITAVAM PAGAMENTO COM CARTÃO. FOI AÍ QUE DESCOBRIMOS QUE NÃO HAVIA DINHEIRO PARA SACAR NAS AGÊNCIAS BANCÁRIAS. A ARGENTINA PARECE SOFRER COM A FALTA DE DINHEIRO EM ESPÉCIE. TIVEMOS QUE IR A 7 AGÊNCIAS PARA CONSEGUIR SACAR O LIMITE DIÁRIO. AFFF! LÁ SE FORAM 3 HORAS DE ESTRADA. SEGUIMOS VIAGEM, POIS TÍNHAMOS AINDA 1 HORA DE SOL.
UMA HORA DEPOIS ESTÁVAMOS EM CALETA OLIVIA, CIDADE CERCA DE 70 KM DE COMODORO RIVADAVIA. PAREI EM UM POSTO DE GASOLINA E ALÍ JANTAMOS, TOMAMOS NOSSOS BANHOS E DORMIMOS UM POUCO CEDO.

SEGUIMOS A VIAGEM BEM CEDO. ESTAVA FRIO, ENTÃO RESOLVI LIGAR, PELA PRIMEIRA VEZ, O AR QUENTE VEICULAR PARA ESQUENTAR O AMBIENTE. ESTAVA CLARO QUE ESTÁVAMOS CHEGANDO A TIERRA DEL FUEGO, ILHA A APENAS 900 KM DA PENÍNSULA ANTÁRTICA.
LOGO APÓS LIGAR O AR QUENTE, COMEÇOU A PINGAR ÁGUA POR BAIXO DO PAINEL NO ASSOALHO DA CABINE DO MOTORHOME. TENTEI POR DIVERSAS VEZES ENTENDER POR ONDE ESTARIA VINDO TANTA ÁGUA, MAS NÃO CHEGUEI A CONCLUSÃO ALGUMA. MEU TÊNIS FICOU COMPLETAMENTE ENXARCADO. O ASSOALHO ESTAVA MUITO MOLHADO. PARECIA LÓGICO QUE EU DEVERIA PROCURAR UM MECÂNICO NA PRÓXIMA CIDADE, QUE ESTAVA A MAIS DE 100 KM.
DEPOIS DE UNS 20 KM, A ÁGUA PAROU DE VAZAR E AGORA O AR QUENTE COMEÇOU A ESQUENTAR O AMBIENTE EXCESSIVAMENTE. O PÉ QUE EU ACELERAVA O VEÍCULO COMEÇOU A QUEIMAR DEVIDO A UMA CORRENTE DE AR DIRECIONADA PARA O ACELERADOR, MOTIVO QUE ME FEZ PARAR O VEÍCULO NO ACOSTAMENTO, POIS NÃO HAVIA MAIS COMO SEGUIR EM FRENTE. NESTE MOMENTO OBSERVEI QUE A TEMPERATURA DO MOTOR ESTAVA MUITO ALTA. DESLIGUEI IMEDIATAMENTE O MOTORHOME E FUI DIRETO VERIFICAR O RADIADOR. SURPRESA! TODA A ÁGUA DO RADIADOR FOI PARAR O PISO DA CABINE DO VEÍCULO, MAS COMO? ALÍ NO MEIO DO DESERTO NÃO HAVIA COMO RESOLVER. ENCHI O RADIADOR COM ÁGUA E SEGUI VIAGEM. OCORRE QUE COM O AR QUENTE DESLIGADO, A ÁGUA PAROU DE VAZAR. PASSEI A VERIFICAR A CADA 20 SEGUNDOS A TEMPERATURA DO MOTOR NO PAINEL DE INSTRUMENTOS. CHEGUEI AO VILAREJO CHAMADO DE FITZ ROY. PAREI NO POSTO DE COMBUSTÍVEL E PERCEBI QUE O RADIADOR ESTAVA CHEIO DE ÁGUA. SEJA LÁ O QUE ACONTECEU, PAROU DE ACONTECER, MOTIVO PELO QUAL DECIDI SEGUIR VIAGEM ASSIM MESMO, POIS A CIDADE DE RIO GALLEGOS, ONDE EU PRETENDIA PARAR, ESTAVA A 500 KM ADIANTE E LÁ EU PROCURARIA UM MECÂNICO.
AFF! 50 KM ADIANTE, DIRIGINDO A 80 KM POR HORA COM TODO MUNDO ASSISTINDO ALGUM FILME NA PARTE DE TRÁS DO MOTORHOME, EIS QUE O PNEU DIREITO DIANTEIRO SIMPLESMENTE EXPLODIU. QUE FALTA DE SORTE! FOI DIFÍCIL CONTROLAR O VEÍCULO. O SUSTO FOI TÃO GRANDE QUE AINDA HOJE MEU CORAÇÃO BATE EM UM RÍTMO DESCONCERTADO.
ALÍ NO MEIO DO DESERTO NÃO HAVIA AJUDA, ENTÃO LÁ FUI EU TROCAR O PNEU DE UM VEÍCULO DE QUATRO TONELADAS. UMA VIAGEM DESTAS COLOCA SUA PERSEVERANÇA À PROVA. EM ALGUNS MOMENTOS VOCÊ SE APROXIMA DE UM SENTIMENTO DE ABANDONO, DE DISTANCIAMENTO, MARGEANDO O TEMOR, O MEDO. E SE EU NÃO CONSEGUISSE TROCAR A PORCARIA DO PNEU? NÃO É UM PNEU DE CARRO E SIM DE CAMINHÃO. PERCEBI QUE, ALÉM DO PROBLEMA DO PNEU, A EXPLOSÃO HAVIA DESTRUIDO OS CANOS DO RODOAR E DO FREIO. AFFF!
UMA HORA DEPOIS, COM TODA A FAMÍLIA OBSERVANDO O DESENROLAR DO MEU TRABALHO, FINALMENTE CONSEGUI TROCAR O MALDITO PNEU. LIGUEI O VEÍCULO E PERCEBI QUE ESTAVA COMPLETAMENTE SEM FREIOS. NÃO CONTEI NADA PARA MINHA ESPOSA, POIS JÁ BASTAVA A MINHA PRÓPRIA PREOCUPAÇÃO. SEGUI VIAGEM DEVAGAR, COM A SORTE DE QUE NÃO HAVIAM INCLINAÇÕES NO TERRENO.
CHEGAMOS A UM POSTO DE COMBUSTÍVEL 30 KM DEPOIS. O LUGAR CHAMADO DE TRÊS CERROS É LITERALMENTE O NADA NO MEIO DE LUGAR ALGUM. PROCUREI O BORRACHEIRO QUE LOGO ME AVISOU QUE O MEU PROBLEMA SÓ PODERIA SER RESOLVIDO POR UM MECÂNICO E QUE ESTE TAL MECÂNICO TRABALHAVA NA PRÓXIMA CIDADE CERCA DE 220 KM DE DISTÂNCIA. PERGUNTEI SE HAVIA COMO CHAMÁ-LO E ELE ME RESPONDEU QUE SIM, MAS POR SE TRATAR DE UM DOMINGO, EU PRECISARIA DORMIR ALI PARA FAZER A LIGAÇÃO SOMENTE NO DIA SEGUINTE.
PASSEI A NOITE EM TRÊS CERROS SEM SABER SE O TAL MECÂNICO SE PRONTIFICARIA A VIAJAR 220 KM PARA ME ATENDER. AFFF! QUE PÉSSIMA SORTE!
BUENA SUERTE – 05
MALA SUERTE – 02

PARTE VII

ACORDEI COM UM CUTUCÃO DA MICHELLI (MEIO DE COMUNICAÇÃO BASTANTE USADO PELAS MULHERES PARA MANDAR O MARIDO RESOLVER ALGUM PROBLEMA). LEVANTEI E FUI PROCURAR O BORRACHEIRO QUE, LOGO DE CARA, ME DISSE QUE O MECÂNICO NÃO PODERIA VIR AJUDAR. CONFESSO QUE FIQUEI UM POUCO NERVOSO COM A FALTA DE PERSPECTIVA.

DECIDI, ENTÃO, PROCURAR OS CAMINHONEIROS PARA EXPLICAR A SITUAÇÃO COM MEU RICO ESPANHOL. UM GENTIL PORTEÑO EXPLICOU QUE HAVIA COMO CONSERTAR O VAZAMENTO DE ÓLEO E QUE, APÓS ISSO, EU TERIA NOVAMENTE FREIOS NAS OUTRAS RODAS, MAS NÃO NA AVARIADA. APÓS 30 MINUTOS, ENTENDI O PROCEDIMENTO E PUDE SEGUIR VIAGEM, MAS NÃO SEM ANTES PRESENTEAR NUESTRO AMIGO ARGENTINO COM UM EXEMPLAR DE UM VINHO MERLOT DA SERRA GAÚCHA.

DE VOLTA À ESTRADA, SEGUI VIAGEM ATÉ PRÓXIMA CIDADE (220 KM), PARA CONSERTAR O FREIO DA RODA AVARIADA. INFELIZMENTE O FLEXÍVEL NECESSÁRIO PARA TAL CONSERTO NÃO EXISTIA NA CIDADE E, DIANTE DISSO, EU PRECISARIA ESPERAR VIR TAL ACESSÓRIO DA CAPITAL (RIO GALLEGOS) DISTANTE 400 KM. NADA FEITO! DECIDI SEGUIR VIAGEM ATÉ TAL CIDADE E LÁ FAZER OS REPAROS, APROVEITANDO O MÁXIMO POSSÍVEL A LUZ DO SOL.

FINAL DO DIA CHEGUEI A RIO GALLEGOS; ÚLTIMA CIDADE DA ARGENTINA ANTES DA FRONTEIRA COM O CHILE. EM MEU MANUAL CONSTAVA UM CAMPING FORA DA CIDADE E DECIDIMOS PROCURÁ-LO. COMO ESTAVA BASTANTE ESCURO, PARAMOS EM UM POSTO DA POLÍCIA RODOVIÁRIA ARGENTINA PARA PEDIR INFORMAÇÕES. OS POLICIAIS FICARAM TÃO ENTUSIASMADOS COM A NOSSA AVENTURA QUE OFERECERAM ÁGUA E LUZ PARA PASSARMOS A NOITE ALÍ MESMO. QUANTA GENTILEZA! FIQUEI COM VERGONHA DA HOSPITALIDADE BRASILEIRA OFERECIDA AOS TURISTAS.

CONVERSAMOS BASTANTE COM OS POLICIAIS ANTES DE DORMIR. NA MANHÃ SEGUINTE, NOVAMENTE AGRADECEMOS A HOSPITALIDADE E VOLTAMOS PARA A CIDADE, A FIM DE ENCONTRAR UM MECÂNICO. COISA RÁPIDA E CARA. PELA PRIMEIRA VEZ NA VIAGEM ENCONTREI UM PRESTADOR DE SERVIÇO QUE SOUBE APROVEITAR A OPORTUNIDADE. ME COBROU 440 PESOS PELO SERVIÇO. ISSO ERA UM ABSURDO PERTO DO QUE ELE COBRARIA DE UM POBRE ARGENTINO. AFF! ESTE É O CUSTO MOTORHOME.

VOLTAMOS PARA A ESTRADA ANTES DO MEIO-DIA. SEGUIMOS ATÉ A FRONTEIRA COM O CHILE E TIVEMOS NOSSA PRIMEIRA E PÉSSIMA EXPERIÊNCIA COM A ALFANDEGA CHILENA. UMA FILA ABSURDA. DESCOBRIMOS QUE PUNTA ARENAS É  ZONA FRANCA E, PORTANTO, UMA PENCA DE ARGENTINOS VIAJAM PARA LÁ TODOS OS DIAS COM A NÍTIDA INTENÇÃO DE MUAMBAR. NO MEIO DELES ESTÁVAMOS NÓS.



APÓS DUAS HORAS, CONSEGUIMOS CRUZAR A FRONTEIRA, NÃO SEM ANTES ENTREGAR A CARNE DO CONGELADOR PARA A FISCALIZAÇÃO FITOSANITÁRIA.



O TRECHO QUE TERÍAMOS QUE PERCORRER NO CHILE ERA MENOR QUE 200 KM, SENDO 126 DELES EM ESTRADA DE RÍPIO. ATRAVESSAMOS O CANAL DE MAGALHÃES E LOGO VISUALIZAMOS UMA PLACA COM A SEGUINTE INFORMAÇÃO: SAN SEBASTIAN (ARGENTINA) – 126 KM.




TERROR, ABANDONO, ISOLAMENTO, SÃO PALAVRAS CAPAZES DE DESCREVER AQUELES 126 KM DE RÍPIO. TAL TRECHO NOS FIZERAM ENTENDER QUE CHILENOS E ARGENTINOS REALMENTE NÃO SE BICAM NAQUELA REGIÃO DO PLANETA (QUASE FORAM À GUERRA NOS ANOS 80). AFF! QUE PÉSSIMA EXPERIÊNCIA! ESTRADA DE CHÃO DE PÉSSIMA QUALIDADE. POEIRA PARA TODOS OS LADOS. NÃO EXISTIA UM POSTO DE GASOLINA, UMA VILA, UM RESQUÍCIO DE CIVILIZAÇÃO, UMA SOBRA DA HUMANIDADE. QUALQUER COISA, ATÉ MESMO ANTENAS DE TRANSMISSÃO OU POSTES DE ENERGIA ELÉTRICA ME TRARÍAM CONFORTO. MAS NADA! TUDO É ABANDONO NAQUELA PARTE ISOLADA DO CHILE. PERCORRER TAL ESTRADA QUASE ME ARREMESSOU A UMA TERRÍVEL SENSAÇÃO DE PÂNICO E DESESPERO. JAMAIS HAVIA PASSADO POR ISSO. NO BRASIL VOCÊ SEMPRE ESTÁ NÃO MAIS DO QUE A DISTÂNCIA QUE A VISTA CONSEGUE ALCANÇAR DE UM PEDIDO DE AJUDA, MAS NÃO AQUI, NÃO NESTA PARTE DO PLANETA.  CASO EU PRECISASSE DE AJUDA, NÃO SABERIA O QUE FAZER, A NÃO SER ESPERAR ALGUÉM PASSAR. AFF! NUNCA DEPENDI TANTO DOS PNEUS. NAQUELES 126 KM ELES NÃO PODERIAM FALHAR.



CHEGAMOS A FRONTEIRA. PARECE QUE O ÚNICO FUNCIONÁRIO DA ADUANA TINHA POUCO A FAZER. LOGO NOS LIBERARAM E PUDE PERCEBER O CUSTO DA ESTRADA DE RÍPIO QUE DEIXAMOS PARA TRÁS. UM CANO DE ÁGUA DO MOTORHOME ARREBENTOU. A ÁGUA DA CAIXA VAZOU INTEIRA. ISSO PRECISAVA SER CONSERTADO, MAS NÃO NAQUELE MOMENTO, POIS EU ESTAVA MUITO CANSADO.


É TÃO DIFÍCIL EXPLICAR, EM PALAVRAS, QUAL A IMPORTÂNCIA DE UMA ESTRADA PAVIMENTADA SOBRE A SERENIDADE DE NOSSOS PENSAMENTOS, QUE NÃO ME ESTENDEREI MAIS.

DE SAN SEBASTIAN (FRONTEIRA) ATÉ RIO GRANDE (CAPITAL DA PROVINCIA DA TIERRA DEL FUEGO ARGENTINA) TÍNHAMOS QUE PERCORRER MAIS de 80 KM. ESTAVA TARDE, PERTO DE 11 HORAS DA NOITE, MAS AINDA PODÍAMOS VER O CREPÚSCULO. ESTÁVAMOS MESMO NA TIERRA DEL FUEGO.

DIRIGI POR UMA ESTRADA FANTASMAGÓRICA POR 1 HORA. CHEGAMOS A CIDADE DO RIO GRANDE. PROCURAMOS UM POSTO DE COMBUSTÍVEL E ALÍ DORMIMOS. EU ESTAVA MUITO CANSADO PARA ESCOLHER OUTRO LUGAR. A ÚLTIMA MOLÉCULA DE ATP EU QUEBREI PARA TOMAR MEU BANHO QUENTE. ESTAVA FRIO! DESMAIEI EM QUESTÃO DE SEGUNDOS.



BUENA SUERTE: 06
MALA SUERTE: 02

PARTE VIII

LEVANTAMOS CEDO. TOMEI UM BANHO BEM QUENTE ENQUANTO A MICHELLI ARRUMAVA A MESA PARA O CAFÉ DA MANHÃ. AO LIGAR O VEÍCULO PERCEBI QUE O LIMPADOR DO PÁRABRISAS NÃO ESTAVA FUNCIONANDO. TENTEI ENCONTRAR O FUSÍVEL QUEIMADO MAS NÃO CONSEGUI. PARTIMOS PELA CIDADE EM BUSCA DE UM ELETRICISTA. QUANDO ENCONTRAMOS UM CIDADÃO DISPONÍVEL, FIQUEI CONSTRANGIDO, POIS ELE ENCONTROU O FUSÍVEL QUEIMADO COM GRANDE FACILIDADE. AFFF! PRECISO APRENDER MUITA COISA.

SEGUIMOS VIAGEM PARA O USHUAIA. DE RIO GRANDE ATÉ O FIM DO MUNDO AINDA TERÍAMOS QUE PERCORRER CERCA DE 400 KM. A PARTIR DA CIDADE DO RIO GRANDE A PAISAGEM MUDOU RADICALMENTE. EM MENOS DE 60 KM PASSAMOS DO COMPLETO DESERTO PARA UMA PAISAGEM VERDEJANTE REPLETA DE MUSGOS E ÁRVORES CONÍFERAS. NÃO DEMOROU MUITO PARA CONSEGUIRMOS VISUALIZAR AO FUNDO A TÃO ESPERADA CORDILHEIRA DOS ANDES COM SEUS PICOS NEVADOS. FOI UMA SENSAÇÃO QUE BEIROU A EUFORIA. VIAJAMOS 5000 KM SENDO 3000 DELES ENTRE UM COMPLETO DESERTO SÓ PARA VER TAL PAISAGEM. ESTÁVAMOS CHEGANDO AO USHUAIA.


AO PASSAR PELA CIDADE DE TOLHUIN (CERCA DE 80 KM DO USHUAIA) PARAMOS PARA CONHECER A PADARIA DOS FAMOSOS. EXCELENTE PANIFICADORA COM TODO TIPO DE PÃES, DOCES, GULOSEIMAS. FIZEMOS A FESTA E APROVEITAMOS PARA ABASTECER NOSSOS ARMÁRIOS. INTERESSANTE DESTA PADARIA É QUE EXISTEM DIVERSAS FOTOS DE PERSONALIDADES QUE ALÍ ESTIVERAM, MAS EU PESSOALMENTE NÃO RECONHECI NENHUMA.

SEGUIMOS VIAGEM. PASSAMOS PELO LAGO FAGNANO SITUADO ENTRE A ARGENTINA E O CHILE. TAL LAGO TEM UM COMPRIMENTO DE CERCA DE 98 KM, COM UMA SUPERFÍCIE DE 645 KM2. É IMENSO! PARAMOS. TIRAMOS ALGUMAS FOTOS E SEGUIMOS ATÉ UM LAGO UM POUCO MENOR CHAMDO DE LAGO ESCONDIDO.


NO LAGO ESCONDIDO, SAÍMOS DA ESTRADA PAVIMENTADA E DESCEMOS POR UMA ESTRADA DE TERRA ATÉ SUAS MARGENS. TUDO MUITO BONITO.



PARAMOS E ALÍ TIRAMOS ALGUMAS FOTOS. A VALENTINA APROVEITOU PARA LAVAR SEUS MORANGOS E COMÊ-LOS ALÍ MESMO.



APÓS UMA HORA, ENTRAMOS NO MOTORHOME PARA SEGUIR VIAGEM. NÃO PUDE NEM ACELERAR O VEÍCULO, POIS HAVIA MUITA FUMAÇA. DESCI DO MOTORHOME E PERCEBI QUE A CORREIA HAVIA SE ESFACELADO PARCIALMENTE. PEGUEI UM ESTILETE E CORTEI A PARTE SOLTA TORCENDO PARA QUE A PARTE QUE SOBROU CONSEGUISSE CUMPRIR A FINALIDADE. DESTA FORMA CHEGAMOS ATÉ O USHUAIA, DIRIGINDO DEVAGAR E CUIDANDO COM A TEMPERATURA DO MOTOR.






JÁ NO USHUAIA PROCURAMOS O CENTRO DE INFORMAÇÕES TURÍSTICAS E DESCOBRIMOS COMO CHEGAR AO CAMPING PISTA DE ESQUI ANDINO. NÃO FOI DIFÍCIL, POIS A CIDADE DO USHUAIA NÃO É LÁ MUITO GRANDE (200 MIL HABITANTES).
CHEGAMOS AO CAMPING E FOMOS MUITO BEM ATENDIDOS PELOS SEUS FUNCIONÁRIOS. ALÍ SOUBEMOS QUE O PROPRIETÁRIO DO CAMPING TAMBÉM É DONO DE CERRO CASTOR (PARQUE DE SKI A 40 KM DE USHUAIA). PROCURAMOS O MELHOR LUGAR PARA ESTACIONAR O MOTORHOME. DESCANSAMOS UM POUCO E, PELO MENOS DURANTE AQUELA NOITE, FICAMOS POR ALÍ MESMO, SEM NADA PARA FAZER, CURTINDO A PAISAGEM, OBSERVANDO AS MONTANHAS COM SEUS PICOS NEVADOS. ESTÁVAMOS AGORA NO FIM DO MUNDO!

BUENA SUERTE - 06
MALA SUERTE - 03




PARTE IX

NO DIA SEGUINTE DECIDIMOS PASSEAR PELA CIDADE DE USHUAIA. ANDAMOS DE UM CANTO AO OUTRO DA AVENIDA PRINCIPAL FAZENDO COMPRAS. A CIDADE APRESENTA BONS PREÇOS POIS O GOVERNO ARGENTINO ISENTOU DE TRIBUTOS AQUELA REGIÃO. ISSO NÃO TORNOU OS PRODUTOS ASSIM TÃO MAIS BARATOS DO QUE EM OUTRAS REGIÕES. CREIO QUE O FRETE ACABE ABSORVENDO O BENEFÍCIO DA ISENÇÃO.


VOLTAMOS AO CAMPING E TIREI A TARDE PARA FAZER ALGUNS REPAROS NO MOTORHOME. MINHA ESPOSA E AS CRIANÇAS PARECEM TER GOSTADO MUITO DO AMBIENTE DO CAMPING, POIS PASSARAM O TEMPO TODO NO RESTAURANTE. LÁ CONHECEMOS UM CASAL DE MINEIROS QUE ESTAVAM FAZENDO O MESMO TRAJETO QUE NÓS, MAS DE PÁLIO 1000 CILINDRADAS. EU FIQUEI CHOCADO COM A DISPOSIÇÃO DELES, MAS SÓ ATÉ CHEGAR UM SENHOR DE MOTO VINDO DOS ESTADOS UNIDOS. COMO SE ISSO NÃO BASTASSE, NÃO PARAVAM DE CHEGAR, UM APÓS O OUTRO, DIVERSOS CICLISTAS DE TODAS AS PARTES DO PLANETA QUE ESTAVAM RODANDO O MUNDO. QUE ABSURDO!

CONHECI UM CASAL DE ALEMÃES DE BERLIN QUE ESTAVAM DE MOTORHOME NO CAMPING. PUXEI CONVERSA E DESCOBRI QUE ELES HAVIAM COMPRADO O VEÍCULO EM SAN FRANCISCO - CALIFÓRNIA. DESDE LÁ ATÉ O USHUAIA FORAM 4 MESES. ME PASSARAM DIVERSAS DICAS SOBRE O TRAJETO, PRINCIPALMENTE NA AMÉRICA CENTRAL, ASSIM COMO O CUSTO PARA A TRAVESSIA DA COLÔMBIA PARA O PANAMÁ. TIREI UMA FOTO DO NOSSO MOTORHOME AO LADO DO VEÍCULO DELES.

JÁ ERA NOITE QUANDO CHEGOU UM MOTORHOME COM PLACA DO BRASIL. FUI LOGO ME APRESENTAR. UM SENHOR MUITO SIMPÁTICO QUE HAVIA VENDIDO SEU RESTAURANTE EM PELOTAS (RS) E RESOLVEU PASSAR UM ANO VIAJANDO COM A FAMÍLIA. LÁ ESTAVAM ELES NO FIM DO MUNDO SEM DESTINO CERTO PARA A PRÓXIMA PARADA. QUE INVEJA!

NA MANHÃ SEGUINTE LEVEI O VEÍCULO PARA UM MECÂNICO A FIM DE TROCAR A CORREIA. APÓS, COMBINAMOS COM UM TAXISTA UM CERTO PREÇO PARA NOS LEVAR CONHECER O PARQUE NACIONAL TIERRA DEL FUEGO. INFELIZMENTE O TEMPO NÃO ESTAVA AJUDANDO E A CHUVA ATRAPALHOU UM POUCO. NO ENTANTO, CONSEGUIMOS VER QUE O LUGAR É REALMENTE FABULOSO. 


DIVERSAS FOTOS FORAM TIRADAS. ESTAVA UM FRIO ABSURDO MAS, MESMO ASSIM, EXISTIAM AVENTUREIROS FAZENDO RAFTING NAS ÁGUAS GÉLIDAS DO LAGO. NÃO PUDE DEIXAR DE FOTOGRAFÁ-LOS AO FUNDO, MAS TAIS PESSOAS PROVAVELMENTE JÁ DEVEM ESTAR MORTAS, OU DE HIPOTERMIA OU DEVIDO A ALGUMA DOENÇA RESPIRATÓRIA.



PARAMOS EM UMA ESTAÇÃO DE CORREIO QUE DIZIA SER A MAIS AO SUL DO PLANETA, DEPOIS DA ANTÁRTIDA - UMA  DAS ATRAÇÕES TURÍSTICAS DO FIM DO MUNDO. NÃO PUDE DEIXAR DE ENVIAR UM POSTAL PARA MINHA SOGRA DIZENDO:

"QUERIDA SOGRA, GOSTARIA QUE VOCÊ ESTIVESSE AQUI".



VOLTAMOS PARA O USHUAIA. CONHECEMOS O MUSEU DO PRESÍDIO - PRISÃO HISTÓRICA QUE FOI FECHADA EM 1947. ESTA PRISÃO É O SIMBOLO DA COLONIZAÇÃO DO USHUAIA. SUA CONSTRUÇÃO COMEÇOU EM 1902 E TERMINOU EM 1920. A RUSSIA NÃO ENVIAVA SEUS PRESIDIÁRIOS PARA A SIBÉRIA? POIS BEM! OS ARGENTINOS ENVIAVAM  PARA  CÁ. SEU OBJETIVO ERA ACOMODAR OS CRIMINOSOS MAIS BRUTAIS DO PAÍS. DESTA MANEIRA USHUAIA FOI SURGINDO. OS PRIMEIROS COLONIZADORES ERAM, EM SUA GRANDE MAIORIA, PRESOS E AGENTES PENITENCIÁRIOS.

PASSEAMOS MAIS UM POUCO PELA CIDADE, FIZEMOS NOSSAS COMPRAS E VOLTAMOS AO CAMPING. 

A NOITE ESFRIOU. NOS FALARAM QUE HAVIA NEVADO NOS PICOS DAS MONTANHAS AO REDOR DO USHUAIA. VERIFICAMOS PELA MANHÃ QUE SE TRATAVA DA MAIS PURA VERDADE, POIS ESTAVA MUITO FÁCIL DE PERCEBER.

AQUELE DIA TIRAMOS PARA PASSEAR DE BARCO PELO CANAL DE BEAGLE. PASSEIO BACANA. TIRAMOS DIVERSAS FOTOS E SEGUIMOS ATÉ MUITO PERTO DO CABO HORN. ALÍ NOS COMENTARAM QUE, HÁ DOIS MESES, UMA TEMPESTADE COM VENTOS DE ATÉ 160 KM POR HORA ATINGIU A REGIÃO E DERRUBOU DIVERSAS ÁRVORES NAS FLORESTAS DA TIERRA DEL FUEGO E QUE, UM GRANDE NAVIO DE PASSAGEIROS ACABOU FICANDO À DERIVA APÓS A ÁGUA DE UMA GRANDE ONDA INVADIR O CONVÉS E DANIFICAR A SALA DE MÁQUINAS. EU ACABEI ME LEMBRANDO DE UMA REPORTAGEM SOBRE O FATO E PUDE BUSCAR O LINK NA INTERNET                                                                           


FOTO DO FAROL MAIS AO SUL DO PLANETA - CANAL DE BEAGLE.













VOLTAMOS AO CAMPING E CONHECI UMA GENTIL SENHORA INGLESA QUE ESTAVA VIAJANDO HÁ MAIS DE 3 MESES COM SEU MOTORHOME DESDE A COLÔMBIA E QUE APROVEITOU PARA ME PASSAR INFORMAÇÕES VALIOSAS SOBRE A TRAVESSIA DE BALSA ENTRE PORVENIR E PUERTO NATALES (CHILE). FIQUEI PREOCUPADO COM A INFORMAÇÃO DE QUE EU TERIA QUE LIGAR PARA A ADMINISTRAÇÃO DA EMPRESA QUE OPERA A BALSA E AGENDAR UM HORÁRIO, SOB PENA DE CHEGAR PARA O EMBARQUE E TER QUE ESPERAR 24 HORAS PELA MINHA VEZ. NÃO PENSEI DUAS VEZES E DECIDI QUE IRIA VOLTAR PELO CAMINHO QUE EU JÁ CONHECIA, MESMO QUE ISSO ME TOMASSE MAIS TEMPO. DECIDI NÃO ESTUDAR QUANTOS KMS REPRESENTAVAM TAL VOLTA PARA NÃO FICAR INDIGNADO. FUI DORMIR. NO DIA SEGUINTE SEGUIRIAMOS VIAGEM PARA EL CALAFATE, PASSANDO POR PUNTA ARENAS E PUERTO NATALES.

FICAMOS ATÉ TARDE NO RESTAURANTE CONVERSANDO E ATUALIZANDO AS FOTOS NO FACEBOOK. NÃO QUERÍAMOS IR EMBORA DO USHUAIA. REALMENTE GOSTAMOS DA CIDADE. A DEPRESSÃO QUE ANTECEDE A PARTIDA COMEÇOU A DAR O AR DAS GRAÇAS.  POR DIVERSAS VEZES DESEJEI SER COMO AQUELES SENHORES APOSENTADOS QUE, JÁ SEM OBRIGAÇÕES PARA COM TRABALHO E FAMÍLIA, VIAJAM O MUNDO DE CIDADE EM CIDADE, SEM DESTINO CERTO E SEM HORA PARA VOLTAR. MINHA REALIDADE É OUTRA, APESAR DE NÃO PODER RECLAMAR, POIS ATÉ HOJE NÃO CONHECI PESSOAS MAIS JOVENS DO QUE NÓS VIAJANDO DE MOTORHOME POR AÍ.

  • ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE O FIM DO MUNDO. USHUAIA DEVE MESMO OSTENTAR O TÍTULO DE "FIM DO MUNDO". FOI AQUI QUE TERMINOU, HÁ 10.000 ANOS ATRÁS, A JORNADA DE EXPLORAÇÃO DOS CONTINENTES PELO HOMEM PRÉ-HISTÓRICO. O "FIM DO MUNDO" FOI POR MUITO TEMPO INVENÇÃO DE CARTÓGRAFOS. ANTES DA EXPEDIÇÃO DE FERNÃO DE MAGALHÃES, ACREDITAVA-SE QUE UMA BARREIRA DE TERRA, DE PÓLO A PÓLO, IMPEDISSE A PASSAGEM PARA AS ÍNDIAS. DEPOIS DE MAGALHÃES, ALGUNS MAPAS MOSTRAVAM UM IMAGINÁRIO CONTINENTE ABAIXO DO ESTREITO DE MAGALHÃES, CONSIDERADO, NA ÉPOCA, A ÚNICA FRESTA ENTRE O OCEANO ATLÂNTICO E O PACÍFICO. SOMENTE EM 1578, FRANCIS DRAKE, O CORSÁRIO A SERVIÇO DA COROA INGLESA, LEVADO POR VENTOS ADVERSOS, DESCEU A COSTA CHILENA ATÉ 56 DE LATITUDE E VIU QUE O TAL CONTINENTE NÃO EXISTIA. 

  • FOI PRECISO ESPERAR QUASE 40 ANOS PARA QUE OS HOLANDESES ATESTASSEM QUE A TIERRA DEL FUEGO SE TRATAVA DE UMA ILHA E NÃO UM CONTINENTE QUE ESTAVA SITUADA A CERCA DE 1000 KM DA ANTÁRTIDA. 

  • UM COMPANHEIRO DE VIAGEM DE FERNÃO DE MAGALHÃES, DESCREVERA OS NATIVOS DA REGIÃO COMO GIGANTES. DARWIN SE SURPREENDEU COM A DIFERENÇA ENTRE O HOMEM CIVILIZADO E OS SELVAGENS DA TIERRA DEL FUEGO. PARA ELE, OS ÍNDIOS ERAM "AS MAIS ABOMINÁVEIS E MISERÁVEIS CRIATURAS" DO PLANETA. OS HOLANDESES QUE DESCOBRIRAM O CABO HORN ALEGAVAM TER ENCONTRADO TÚMULOS COM ESQUELETOS DE HOMENS QUE MEDIAM CERCA DE 2,5 METROS. 
TANTAS HISTÓRIAS FORJARAM NO IMAGINÁRIO POPULAR A IDEIA DE QUE O USHUAIA SERIA MESMO O FIM DO MUNDO. POR ISSO, TODOS OS ANOS, MILHARES DE PESSOAS VIAJAM PARA ESTA REGIÃO PARA CONHECER A REGIÃO MAIS AUSTRAL DO PLANETA.


BUENA SUERTE: 07
MALA SUERTE: 03





SEGUEM ALGUMAS FOTOS DA REGIÃO: