domingo, 17 de abril de 2011

PARTE III

Ao acordar, recolhi cabo de luz e mangueira d’água e nos pusemos a seguir a Ruta 3 a partir de Bahia Blanca em direção a Viedna, cidade já pertencente a Patagônia. Após 200 km, alcançamos a primeira barreira fitossanitária existente no trajeto do dia. A partir de tal barreira não poderíamos levar qualquer produto de origem animal e vegetal. Tratava-se da mais rigorosa inspeção de que fui alvo em toda a viagem. Nem mesmo a receita federal do Brasil é tão obstinada pela busca ao irregular.



Tal controle tem por objetivo preservar a fauna e flora da região de transgênicos e pragas. Vasculharam absolutamente tudo. Minha esposa, maliciosamente, pegou uma das peras que havíamos comprado em Buenos Aires e deixou nas mãos do bebê. Foi a coisa mais engraçada da viagem. O teatro que o bebê fez quando o fiscal pediu a fruta foi realmente cômica, mas não funcionou. A fruta teve que ser consumida na hora. Seguimos viagem desabastecidos.









A paisagem mudou drasticamente em apenas 20 km. Estávamos, finalmente, chegando a Patagônia. Os campos verdes sem fim desapareceram, dando lugar a uma paisagem desértica, com poucos arbustos e absolutamente nenhuma árvore. 


















O tráfego das estradas depois de Bahia Blanca também diminuiu bastante. Estávamos próximos de Viedma, cidade a 270 km de Bahia Blanca.













Viedma localiza-se às margens do Rio Negro e possui temperatura média anual de 14° Celsius. As casas construídas à beira do rio nos demonstraram que, mesmo diante de tal temperatura, ela vem sendo bastante explorada como balneário. 

A arquitetura moderna das casas ao lado da ponte realmente nos impressionou. Paramos em um posto YPF para encher o tanque e acessar os e-mails. Após um leve lanche, percebi que o pneu que eu havia comprado em Buenos Aires tinha um raio um pouco maior do que o outro. Por instantes, tive a nítida impressão de que isso me traria problemas, portanto, decidi que pararia no primeiro borracheiro existente na estrada.









A saída da cidade é um pouco confusa e acabei pegando uma rota errada. Sorte que meu GPS acusou tal erro. Já na rota correta, a Patagônia começou a demonstrar o que enfrentaríamos: o nada de civilização. Não havia uma só alma viva e muito menos um borracheiro na beira da estrada. 
Tão logo eu havia me dado conta de tal situação e aquele maldito pneu explodiu. Ahh que falta de sorte!
Diminui a velocidade e decidi seguir até a próxima cidade sem trocar o pneu, já que meu veículo possui duplo rodado e, devagar, tal problema não me traria lá grandes danos. Procuramos no mapa a próxima cidade e, para nossa decepção, Santo Antônio d’ Oeste estava a uma distância de 150 km. O barulho do pneu destruído estava me preocupando. Alguns pensamentos não paravam de martelar minha cabeça enquanto eu observava atentamente o horizonte. 
Será que eu deveria parar e tentar trocar o pneu, mesmo com todos aqueles canos de rodoar e peças de separação das rodas inerentes ao veículo duplo-rodado? Se eu fizesse isso, será que eu conseguiria montar adequadamente depois todas as peças da roda? E se eu não conseguisse? Como conseguir ajuda no meio do nada? Aff!!

O tempo passava e nada de cidade alguma. Parei uma dúzia de vezes para avaliar o estrago, já que o rodoar não acusava mais nenhuma pressão nos pneus. Procurei não preocupar minha esposa, pois isso não ajudaria em nada.

Foram 3 horas para fazer 180 km. Visualizar Santo Antônio d’Oeste foi realmente muito tranquilizador. Pensei: Civilização finalmente! Eu já sabia, desde o início da viagem, que a Patagônia me arremessaria, mais cedo ou mais tarde, a uma sensação de abandono, de isolamento, de impotência e, via de consequência, de dependência. Estava curioso em saber como eu me comportaria.




Em Santo Antônio D’Oeste encontrei um posto de combustível com serviço de borracharia. O borracheiro trocou o pneu pelo estepe, mas não possuía um pneu novo para me vender. Não gostaria de arriscar a viajar sem estepe e decidi dormir na cidade para poder comprar um pneu novo no dia seguinte, já que o horário comercial já havia terminado.



Procuramos um camping e descobrimos que Santo Antonio D’Oeste é, na verdade, um famoso balneário da região. Seguimos para a praia chamada de “Las Grutas” e encontramos um camping que estava realmente quase lotado. Ali enchi a caixa d’água do motorhome e procurei uma tomada de luz. Bastou ligar o forno elétrico e a energia do camping inteiro despencou. Tentei isso por duas vezes e cheguei a conclusão que a rede elétrica do estabelecimento não suportaria os equipamentos do meu veículo. Fui obrigado a desistir. AFFF novamente!

Nos tornamos a sensação do camping. Todos comentavam sobre nossa origem e tiravam fotos do veículo, mas não tiveram coragem de puxar conversa. Lembrei que nós brasileiros somos iguais com os Argentinos que visitam nossas praias.

Conversei com um grupo ao lado e eles nos informaram que eram de Buenos Aires e estavam passando as férias em Las Grutas. Ora bolas! 1.200 km de carro para passar as férias no balneário de Las Grutas. Por que não foram para Florianópolis? Acho que esta praia deve mesmo ser muito bonita. Descobrirei isso no dia seguinte.

Saldo final:
Buena-suerte – 03
Mala-suerte – 01

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